sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O nascimento da Igreja de Jesus


O Nascimento da Igreja

Em primeiro lugar, gostaríamos de esclarecer onde, como e quando teve origem a chamada Igreja Católica.
A palavra “Igreja” explica-se claramente pela sua origem latina ecclesia, que significa «assembleia». Na verdade, designa a reunião dos primeiros cristãos para celebrar a Eucaristia, mas também o edifício, a construção na qual se desenrola esta celebração e o local de encontro da comunidade. O termo “católica”, vem do grego katholikos e significa «universal», estando em conformidade com o desejo do seu fundador, JESUS CRISTO: “Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura” (Mc 16, 15).
Como já foi dito, a Igreja tem origem divina (Jesus Cristo: verdadeiro homem e verdadeiro Deus). Mas antes mesmo de ser fundada, Jesus fez questão de manifestar esta sua vontade e interesse divino aos seus Apóstolos.
É no Evangelho de São Mateus que podemos confirmar este seu desejo: “Ao chegar à região de Cesareia de Filipe, Jesus fez a seguinte pergunta aos seus discípulos: «Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?». Eles responderam: «Uns dizem que é João Baptista; outros, que é Elias; e outros, que é Jeremias ou algum dos profetas.» Perguntou-lhes de novo: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» Tomando a palavra, Simão Pedro respondeu: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo.» Jesus disse-lhe em resposta: «És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu. Também eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Abismo nada poderão contra ela. Dar-te-ei as chaves do Reino do Céus; tudo o que ligares na terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu ” (Mt 16, 13-19).
Assim, vemos que Jesus promete edificar a Sua Igreja sobre Pedro que, momentos antes testemunhara em seu nome e no dos demais Apóstolos a Messiandade e Filiação Divina de Cristo. A Igreja de Jesus terá como principal característica a indestrutibilidade, mesmo quando sondada pelas artimanhas do demónio. A Igreja, portanto, ainda não havia sido fundada, mas já tinha o seu chefe (Papa) escolhido entre os discípulos: é Pedro que recebe as chaves do Reino, com o poder de ligar e desligar as coisas do Céu. Posteriormente, Jesus volta a falar da Sua futura Igreja, confirmando a sua autoridade perante os seus fiéis: “Se o teu irmão pecar, vai ter com ele e repreendo-o a sós. Se te der ouvidos, terás ganho o teu irmão. Se não te der ouvidos, toma contigo uma ou duas pessoas, para que toda a questão fique resolvida pela palavra de duas ou três testemunhas. Se ele se recusar a ouvi-las, comunica-o à Igreja; e, se ele se recusar a atender a própria Igreja, seja para ti como um pagão ou um cobrador de impostos. Em verdade vos digo: Tudo o que ligardes na Terra será ligado no Céu, e tudo o que desligardes na Terra será desligado no Céu” (Mt 18, 15-18).
Vemos assim que o pecador que não escutasse o seu irmão e fosse entregue à Igreja, se ainda assim permanecesse no pecado, não ouvindo os seus irmãos na fé e nem, por último, a Igreja (isto é, não se submetendo à autoridade eclesiástica), deveria ser excluído da comunidade cristã [eis aqui a remota origem da excomunhão]. O versículo 18 estende o poder de “ligar e desligar” aos demais apóstolos, porém, sem retirar de Pedro a primazia (=chaves) sobre os demais, como podemos confirmar nas passagens que se seguem: “E o Senhor disse: «Simão, Simão, olha que Satanás pediu para vos joeirar como trigo. Mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não desapareça. E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos.»” (Lc 22, 31-32); “Depois de terem comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: «Simão, filho de João, tu amas-me mais do que estes?» Pedro respondeu: «Sim, Senhor, Tu sabes que eu sou deveras teu amigo.» Jesus disse-lhe: «Apascenta os meus cordeiros.» Voltou a perguntar-lhe uma segunda vez: «Simão, filho de João, tu amas-me?» Ele respondeu: «Sim, Senhor, Tu sabes que eu sou deveras teu amigo.» Jesus disse-lhe: «Apascenta as minhas ovelhas.» E perguntou-lhe, pela terceira vez: «Simão, filho de João, tu és deveras meu amigo?» Pedro ficou triste por Jesus lhe ter perguntado, à terceira vez: “Tu és deveras meu amigo?” Mas respondeu-lhe: «Senhor, Tu sabes tudo; Tu bem sabes que eu sou deveras teu amigo!» E Jesus disse-lhe: «Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21, 15-17).
Temos, então, que a Igreja do Senhor foi fundada após a ressurreição de Jesus. É o livro dos Actos dos Apóstolos (segunda parte dos escritos de Lucas, já que a primeira é o seu Evangelho), a partir do capítulo 1, versículo 12, que oferece os dados mais importantes sobre o início da Igreja. Poucos dias antes da fundação oficial da Igreja, em aparição aos seus discípulos e antes de ascender aos céus, Jesus promete-lhes o Espírito Santo para que o Evangelho possa atingir todas as nações: “Estavam todos reunidos, quando lhe perguntaram: «Senhor, é agora que vais restaurar o Reino de Israel?» Respondeu-lhes: «Não vos compete saber os tempos nem os momentos que o Pai fixou com a sua autoridade. Mas ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo» (Act 1, 6-8).
Assim, os discípulos aguardam em Jerusalém a vinda do Espírito Santo, que marcará o início da Igreja e, enquanto esperam, elegem o substituto para a vaga deixada por Judas Iscariotes, o traidor que cometera suicídio: “… designaram dois: José de apelido Barsabás, chamado Justo, e Matias. Fizeram, então, a seguinte oração: «Senhor, Tu que conheces o coração de todos, indica-nos qual destes dois escolheste para ocupar, no ministério apostólico, o lugar abandonado por Judas, que foi para o lugar que merecia. Depois, tiraram à sorte, e a sorte caiu em Matias, que foi incluído entre os onze Apóstolos” (Act 1, 15-26).
A Igreja e o Espírito Santo
Chega, então, o dia da festa de Pentecostes e os Apóstolos estão todos reunidos no Cenáculo; eis que de repente se cumpre a promessa de Jesus e o Espírito Santo vem sobre todos os discípulos que começam a pregar a Palavra de Deus em vários idiomas, de forma que pudessem ser compreendidos por todos, especialmente pelos estrangeiros que estavam presentes em Jerusalém para as festividades. Como poderiam aqueles homens rudes— boa parte compostos por pescadores ignorantes – estarem demonstrando cultura, expressando-se perfeitamente em línguas que jamais tiveram oportunidade de conhecer: “Quando chegou o dia de Pentecostes, encontravam-se todos reunidos no mesmo lugar. De repente, ressoou, vindo do céu, um som comparável ao de forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde eles se encontravam. Viram então aparecer umas línguas, à maneira de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes inspirava que se exprimissem. Ora, residiam em Jerusalém judeus piedosos provenientes de todas as nações que há debaixo do céu. Ao ouvir aquele ruído, a multidão reuniu-se e ficou estupefacta, pois cada um os ouvia falar na sua própria língua” (Act 2, 1-6).
Pedro aproveita a oportunidade e, como líder primaz da Igreja, discursa testemunhado fervorosamente a favor de Jesus Cristo e obtém a conversão de aproximadamente 3000 pessoas de uma só vez! É a acção do Espírito Santo em favor da sua Igreja (Act 2, 14-41).
Essa comunidade cristã passa-se a reunir no primeiro dia da semana (Domingo), recordando o dia da ressurreição de Jesus, para a realização da fracção do pão e orações, isto é, para celebrarem a Santa Missa na sua forma mais primitiva: “Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações” (Act 2, 42).
Mas a Igreja deve ainda pregar as boas novas de Jesus a todos os povos e, para isso, necessita de missionários que estejam dispostos a partir para outras nações. É certo que todos os Apóstolos partiram em missão, permanecendo apenas Tiago, parente de Jesus, em Jerusalém. Para aumentar a expansão da Igreja pelo mundo pagão, o próprio Senhor selecciona a dedo um dos seus grandes perseguidores: Saulo de Tarso. Após converter-se por intermédio de uma visão particular de Jesus (Act 9, 3-9) e mudar o seu nome para Paulo, este ex-perseguidor passa a ser o principal missionário da Igreja primitiva, e realiza importantes pregações entre os pagãos, podendo ainda ter atingido a Espanha! (Rom 15, 24-28).
A Igreja cresce e a hierarquia começa a surgir, com a nomeação de presbíteros e diáconos para liderar as várias comunidades que surgem a partir de então: “Por esses dias, como o número de discípulos ia aumentado, houve queixas dos helenistas contra os hebreus, porque as suas viúvas eram esquecidas no serviço diário. Os Doze convocaram, então, a assembleia dos discípulos e disseram: «Não convém deixarmos a palavra de Deus, para servirmos às mesas. Irmãos. É melhor procurardes entre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria; confiar-lhes-emos essa tarefa. Quanto a nós, entregar-nos-emos assiduamente à oração e ao serviço da Palavra.» A proposta agradou a toda a assembleia e escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe, Prócuro, Nicanor, Timão, Parmenas e Nicolau, prosélito de Antioquia. Foram apresentados aos Apóstolos que, depois de orarem, lhes impuseram as mãos. A palavra de Deus ia-se espalhando cada vez mais; o número dos discípulos aumentava consideravelmente em Jerusalém, e grande número de sacerdotes obedeciam à Fé ” (Act 6, 1-7).
Porém, como a mensagem cristã foi primeiramente voltada para os judeus, surgindo as primeiras conversões a partir desse grupo, logo, com a conversão dos gentios (pagãos), surgiu um dilema: estariam estes obrigados a seguir a Lei de Moisés como os judeus? Os missionários judaizantes (cristãos convertidos do judaísmo) por conta própria, começam a impôr as regras mosaicas - inclusive a circuncisão – também para os gentios e, em pouco tempo, passam a confrontar Paulo directamente, que defendia a não validade da Lei para estes. A solução para o problema é obtida mediante um Concílio reunido em Jerusalém (Act 15), onde os Apóstolos, seguindo a orientação de São Pedro (o 1º Papa), decidem que os gentios não estão obrigados a observar a Lei mosaica, com excepção de pouquíssimos detalhes claramente disciplinares e, por isso mesmo, de aplicação temporária. Estava agora a Igreja -por inspiração do Espírito Santo- liberta de uma vez por todas das correntes que a prendia ao judaísmo e, daí para a frente, expandiu-se por todo o mundo, tornando a mensagem salvífica de Cristo, “Universal” (Católica), isto é, conhecida por todos os povos e guardando até hoje, com respeito e cuidado, o sagrado Depósito da Fé (Doutrina da Igreja Católica). Mas para o sucesso da expansão do Evangelho, foi primordial a mudança estratégica da sede da Igreja, deixando Jerusalém e estabelecendo-se definitivamente em Roma, de onde partiam todas as estradas para o mundo até então conhecido, o que certamente facilitou as missões: “Manda-vos saudações a comunidade dos eleitos que está em Babilónia[2] e, em particular, Marcos, meu filho ” (1 Pe 5, 13).
Características da Igreja de Cristo
Concluindo, percebemos que a verdadeira Igreja de Jesus Cristo possui várias características:
--É Una: porque tem um só Senhor, Jesus Cristo, professa uma só fé, nasce dum só Baptismo e forma um só Corpo, vivificado por um só Espírito, em vista duma única esperança[3]: Ressurreição. Confirmemos: “Há um só Corpo e um só Espírito, assim como a vossa vocação vos chamou a uma só esperança; um só Senhor, uma só fé, um só baptismo; um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por todos e permanece em todos” (Ef 4, 4-6).
--É Santa: porque o seu autor é o Deus santíssimo; Cristo, seu Esposo, por ela Se entregou para a santificar; vivifica-a o Espírito de santidade. Embora encerre pecadores no seu seio, ela é a «sem-pecado feita por pecadores». Nos Santos brilha a sua santidade; em Maria, mãe do Salvador, ela já é totalmente santa[4].
--É Católica: porque anuncia a totalidade da Fé; é enviada a anunciar o Evangelho a todos os povos, dirigindo-se a todos os homens, abrangendo todos os tempos; é por sua própria natureza, missionária[5].
--É Apostólica: porque está edificada sobre alicerces duradouros, que são “os Doze Apóstolos do Cordeiro” (Ap 21,14) ; é indestrutível; é infalivelmente mantida na verdade: Cristo é quem a governa por meio de Pedro e dos outros Apóstolos, presentes nos seus sucessores, o Papa e o colégio dos Bispos[6].
--É Romana: porque o chefe visível da Igreja (o Papa) está estabelecido em Roma; com ele, todos os Bispos do mundo devem estar em plena comunhão (Act 15). [Observação: o título “romana” não tem sentido de nacionalidade ou restrição, em contraste com o título “Católica”, que tem o sentido de universalidade; “romana” simplesmente indica a localização da sede mundial da Igreja, e apenas isso]. De modo semelhante, o próprio Jesus, Salvador de todos os homens, foi chamado “Nazareno”, porque, convivendo com os homens, precisava de um endereço, que foi a cidade de Nazaré.
Convém também esclarecer que a expressão “Igreja Católica” teve origem por volta do ano 107 D.C., sob a pena de S. Inácio, Bispo de Antioquia, o qual escreveu: “Onde quer que se apresente o Bispo, ali esteja também a comunidade, assim como a presença de Cristo Jesus nos assegura a presença da Igreja Católica”[7]. É bom lembrar que, já nessa altura, existiam correntes ou “igrejinhas” heréticas, separadas da Igreja grande, fundamentando a necessidade de dar um nome à Igreja autêntica e única fundada por Jesus Cristo.

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